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A coragem de voar mais alto

A jornada da mulher que nasceu na periferia e, com apoio e muita garra, se tornou executiva de grandes empresas e uma das líderes da Hope


Quando Emanuelle Lemos, moradora da humilde comunidade do Capão Redondo, em São Paulo, completou a oitava série do Ensino Fundamental, na época com 15 anos, ouviu da mãe que, já que tinha acabado o ensino básico, poderia trabalhar em uma das lojinhas do bairro.


Para muitos dos jovens que tivessem a mesma origem de Emanuelle e que fossem frutos de uma família desestruturada, filhos de uma mãe solteira, e responsáveis por cuidar de outros 3 irmãos, talvez essa proposta tivesse sido uma boa. Trabalhar no comércio local, fazer algum dinheiro e ajudar a família a sobreviver era o que aquela mãe - que teve sua primeira gravidez aos 16 anos e quase nenhuma oportunidade - conseguia visualizar de melhor para o futuro da filha. Mas Manu queria mais.



O poder do conhecimento

“Eu lembro que naquele momento aquilo já soou tão estranho pra mim, porque eu não queria estar ali. Nada contra a lojinha em Santo Amaro, mas eu sentia que podia ir muito além”, ela conta. E podia. Agarrada aos estudos e sabendo exatamente como eles eram capazes de transformar sua vida, Manu realmente tinha outros planos. Ela estava convicta de que a chave para poder crescer, ter uma profissão e ajudar a mãe e os irmãos a terem uma vida melhor era mesmo o conhecimento.


No Ensino Médio, enquanto fazia o curso técnico em contabilidade, começou a estagiar em um escritório da área. Assim que formou no colégio, decidiu ir ainda mais longe e escolheu cursar Direito na faculdade, mas, como nada até então tinha sido muito fácil em sua vida, agora não seria diferente. “Meu salário mal dava pra pagar a faculdade, era difícil sobrar até pra comer. Minha mãe já teve que pedir sapato emprestado para a vizinha para eu poder trabalhar. Mas eu sempre quis estudar, melhorar, mesmo com poucos recursos”, relembra.


Oportunidades exigem preparo

Ainda que todas as variáveis tornassem a caminhada mais árdua e muito propícia para que aquela jovem da periferia simplesmente desistisse de sonhar alto e escolhesse pela opção que a mãe lhe tinha dado há uns anos atrás, abrir mão de ter uma carreira nunca foi uma possibilidade. “Comecei a trabalhar na área tributária e adorava desafios, sempre busquei isso na minha vida. Eu queria o que me fizesse pensar mais”.


Mais importante do que querer os desafios e ir em busca de oportunidades, é estar preparado para elas e, além disso, conseguir se enxergar no lugar onde quer chegar. Disso Manu sabia bem. “Eu sempre procurei me preparar para quando surgisse a oportunidade, mas o primeiro passo é você conseguir se ver no lugar onde quer chegar no futuro, porque quando você nem se vê, é difícil encontrar caminhos que te levem até lá”, conta.


Foi assim, se projetando em grandes posições e buscando se preparar para os desafios que viessem, sem medo de arriscar e se relacionando bem com as pessoas com quem trabalhava, que ela chegou lá. Depois de algumas experiências importantes em multinacionais, Manu alcançou ao ápice da carreira como diretora da área tributária da América Latina de uma gigante do ramo de mobilidade urbana no Brasil.


Decepções e recomeços

Ainda que trabalhar em grandes corporações seja o sonho de muita gente, é bom não se esquecer de que o machismo e o sexismo, infelizmente, ainda se fazem presente em lugares assim, que envolvem uma direção predominantemente masculina e muito poderosa. Mãe solo e voltando de licença maternidade, Manu foi demitida com o argumento de que sete meses sem trabalhar era muito tempo para alguém ficar fora de uma empresa de tecnologia. “Foi um baque pra mim, não houve qualquer cuidado por parte de uma empresa que sempre levantou a bandeira de olhar e priorizar as pessoas. Mas como nada é por acaso, principalmente na jornada de alguém que sempre buscou uma vida com propósito, essa foi a oportunidade que buscava para devolver à sociedade um pouco do que havia conquistado”, afirma. Ajudar a construir um projeto de impacto social era seu objetivo, além de buscar um trabalho que lhe desse mais flexibilidade por conta do seu filho.


Com a mesma sede por conhecimento e clareza da importância de se preparar para o que poderia vir a seguir, ela foi em busca de novos desafios e chegou até aqui. Emanuelle, agora com 38 anos, está à frente da squad de saúde financeira e jurídica da Hope. “Eu tive o privilégio de ter uma tia que acreditou em mim e sempre me incentivou a estudar. Era minha referência como mulher e profissional. Mas se, além deste apoio, eu tivesse tido uma Hope na minha vida, certamente tudo teria sido mais fácil. Meu desejo é ajudar pessoas em situações desfavorecidas, assim como eu, a sonhar, receber apoio, ter perspectiva de uma realidade diferente! É possível ser um jovem, uma mulher de periferia alcançando voos maiores. O mundo tem lugar para todos e, sozinhos, a jornada é muito mais difícil. Por isso a Hope existe, para auxiliá-los a conectar o ponto de partida ao de chegada! E a chegada pode ser muito promissora...”, ela conclui.


A capacidade de sonhar, de se imaginar saindo de um lugar sem oportunidades e alcançando uma profissão que lhe desse orgulho sempre foi uma habilidade dessa mulher forte. Recusar-se a ir trabalhar na lojinha e continuar os estudos não foi sinônimo de soberba, mas de coragem. É preciso coragem para ir na contramão do que a sua origem socioeconômica te impõe, com a certeza de que o futuro pode guardar mais, e que é possível construir uma nova vida se existem oportunidades e preparo. É nisso que Manu acredita. E a Hope também.


Texto e entrevista: Maria Vitória Mazão




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